segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Especial da Semana - Evandro Raiz Ribeiro, autor de "Não deixe o sol brilhar em mim"

Sinopse: Em Não Deixe o Sol Brilhar em Mim o autor volta no tempo em um acerto de contas com o passado. Misturando reminiscências de sua infância com ficção, conta a história de Dennis e Valquíria, dois pré-adolescentes perdidos na solidão de suas vidas, cada um preenchendo o vazio existencial que há no outro em meio aos anseios da adolescência, descoberta do primeiro amor e amizade sincera. Porém Valquíria tem um segredo terrível. Não Deixe o Sol Brilhar em Mim é uma história de vampiros diferente em que a fuga da solidão ultrapassa o limite do sobrenatural.

Biografia do autor: Nasceu em Recife, passou sua infância entre Pernambuco, Paraiba e Alagoas. A adolescência passou em Santo André, cidade que considera como sua segunda terra natal, onde tem uma segunda família e muitos amigos. As pessoas que lá encontrou, trataram um garoto nordestino e desconhecido com o devido respeito que o ser humano merece, dando-lhe a confiança necessária para desbravar o futuro e o mundo. Hoje em dia é web designer e mora no Japão desde 1992. Não deixe o sol brilhar em mim é a sua primeira aventura literária.

E para conhecer um pouquinho mais do autor e sua obra, nós, integrantes do Fantastiverso, fizemos uma entrevista com ele:

1 - Lu Piras Quando você descobriu sua vocação para a escrita?
Evandro Raiz Ribeiro Na verdade, eu nunca pensei que escreveria  um livro, ou  ainda que viesse a publicar um. Sempre fui mesmo  um leitor, não me recordo de nenhum único dia em que não estivesse lendo, isso enquanto  morei no Brasil.  Aqui no Japão, onde vivo atualmente, existiu inicialmente a  dificuldade de não ter acesso a livros em português. E foi justamente nesse momento que comecei a esboçar uma história , que também era de vampiros.  Ainda não era a época em que todos podiam ter seu computador pessoal, e escrevia em um word processor  que gravava o texto de forma precária em um disquete.  Acabei perdendo o texto que havia escrito,  e que na verdade não era nada importante nem tinha consistência. Mas me recordo que havia gostado muito de uma das cenas e fiquei com aquilo martelando na cabeça. Até que um dia em 2009, assistindo a um filme, decidi que  tinha que contar aquela história à minha maneira.  
2 - Elaine Velasco  Sei que você se inspirou no filme "Deixe-me entrar" pra escrever seu livro. Fale-nos um pouco sobre isso.?
Evandro Raiz Ribeiro Essa  é uma pergunta providencial e quero responder detalhadamente. O filme que me inspirou a escrever meu livro foi “Let the Right One In “ do diretor suéco Thomas Alfredson baseado na obra homônima do escritor também suéco John Ajvide Lindqvist chamado no Brasil “Deixa ela entrar”, que para mim é uma obra prima do terror.  Esse filme inspirou também o diretor americano  Matt Reeves a fazer, desnecessáriamente em minha opinião, o filme “Let me In” traduzido no Brasil como “Deixe-me entrar”. Digo isso, porque foi muito cedo para se fazer o “remake” de um excelente filme que acabara de ser lançado. Isso tirou a atenção do filme original, e o filme de Reeves não acrescentou nada de importante a história.  O filme “Let me in” não é ruim de forma alguma, mas “ Let the Right One In” apesar de ser um produção de baixo recursos, com algumas falhas ridículas e algumas tropeçadas dos atores execelentes, mas inexperientes, é uma obra prima do terror, como citei anteriormente. Todos os dois filmes contam com o roteiro do próprio autor John Ajvide Lindqvist.  Entretanto, Thomas Alfredson, foi de uma sensibilidade sem tamanho, tirando o máximo da excelente e inovadora história de vampiros de  John Ajvide Lindqvist.  Procurei tudo que existisse sobre a obra, comprei o filme,  a versão em inglês do livro, e recentemente adquiri uma versão em português que comprei em portugal.  Lembrando que quando escrevi meu livro, eu só havia assistido ao filme e não havia lido o livro.  Não quero fazer spoilers, apesar de adorar um, não me importo de forma alguma de saber partes importantes de uma história antes de a ler. Mas o livro contém informações adicionais que Thomas Alfredson usou apenas de forma sútil, passando despercebidas a quem assiste ao filme. Quem quiser saber detalhes, poderá ler a resenha que fiz dos filmes e do livro no meu blog : http://evaneoslivros.blogspot.jp/2011/04/resenha-do-filme-e-do-livro-let-right.html , mas já deixo avisado: contém spoilers terríveis.
Essa pergunta dá uma deixa para uma questão importante, que apenas existe na mente de algumas pessoas medíocres que acusam minha obra de plágio do filme apenas por ler a sinopse.  Não, meu livro não é uma cópia descarada de “Deixa ela Entrar”. Cada letra, cada vírgula (algumas colacadas de forma indevida, porque não me preparei para ser um escritor e agora corro atrás do prejuizo. E pode, com toda razão atirar-me um tijolo, quem escreva impecavelmente) são de minha autoria, baseados em minha história pessoal.  Não Deixe o Sol Brilhar em Mim, é antes de tudo, uma homenagem a genialidade de Thomas Alfredson, que fez despertar em mim o desejo de passar par a o papel, o que me passava pela mente.  É também uma homenagem a John Ajvide Lindqvist, que soube inovar de maneira ímpar esse tão explorado universo das histórias de vampiros.
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3 - Edson Gomes Quais autores você admira e por que?
Evandro Raiz Ribeiro  Comecei a ler com 6 anos e inicialmente cai de amores pelos nossos autores nacionais.   Li Monteiro Lobato,  José Lins do Rego, Machado de  Assis, Fernando Sabino, etc. Aos poucos,  fui tomando conhecimento também dos autores internacionais:  Júlio Verne, Alexandre Dumas, Agatha Christie  e  outros. Hoje em dia, como um autor, me vejo engajado na campanha de fazer com que se dê o devido valor ao autor nacional.  O Mercado da literatura é em primeiro lugar um mercado, e o retorno financeiro ocupa lugar de destaque nas prioridades de quem o movimenta. E o que vem de fora nos acena com a ideia de vai nos tirar da mesmice da monotonia cotidiana, passear por mares nunca dantes navegados, um oasis no desertoda nossa rotina.  Mas, isso não passa de pura  ilusão,  o escritor esteja ele onde estiver , possui o dom de  teletransporte ao desconhecido, usando  apenas a ferramenta do imaginário contida em sua mente conectada ao blutooth de sua pena, que hoje em dia tem o formato de teclado.  Os autores que admiro são: Machado de Assís, por sua genialidade. Dom Casmurro, consegue extrair do leitor desde o mais puro e sublime êxtase encerrado na descoberta do primeiro amor, até o mais vil sentimento de vingança contido na vontade de destruir quem amamos. Tudo isso separado apenas  pela tênue linha entre a  dúvida e a certeza, a razão e o imaginário; Stephen King,  pela arte de tirar o sobrenatural do campo  do inatingível,  que acontece em algum lugar distante e trazê-lo para o nosso  dia à dia corriqueiro;  Edgar Alan Poe e H.P. Lovecraft,  por extrair de suas vidas atormentadas, matéria-prima farta que povoa o universo imensuravel de suas histórias fantásticas; José Lins do Rego, pela melancolia constante e finais trágicos que são a marca de sua obra.  Não sou apaixonado por finais felizes nem pelos bons mocinhos.
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4 - Rafael de Souza Qual foi a coisa mais maluca que lhe aconteceu após a publicação de "Não deixe o sol brilhar em mim"?
Evandro Raiz Ribeiro  Olha, por enquanto as coisas malucas ainda não aconteceram, ainda estou no campo das coisas interessantes e das surpresas.  Foi muito gratificante quando descobri que o autor, mesmo em meio a ainda pouca quantidade de leitores assíduos no meio de nossa sociedade, é visto com outros olhos, como se estivesse em um patamar diferenciado.  Tive essa certeza, na primeria vez em que fui divulgar meu trabalho, e isso aconteceu no Brazilian day Tokyo em 2011. A Princípio, as pessoas me tratavam como um vendedor de livros,  mas quando tomavam conhecimento que eu era o escritor do livro e que estava divulgando meu trabalho, a coisa mudava de figura. Isso foi uma experiência incrível e aconselho a todos autores a divulgar seu trabalho pessoalmente, cara a cara com o possível público leitor, é uma experiência ímpar.  Claro que descobrir o universo literário, conhecer outros autores, blogs e pessoas , é um universo novo e instigante.
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5 - Livia Lorena Como trabalhar um tema tão sombrio, com personagens tão jovens?
Dennis, a personagem principal, tem algo seu? Quanto de você?
Evandro Raiz Ribeiro Na minha opinião,  a idade cronológica não representa necessariamente maturidade psicológica.  Eu com catorze anos era independente, técnicamente falando. Pois, morava sozinho, trabalhava, estudava e cuidava dos meus afazeres domésticos. Muitos garotos do meu convívio, se drogavam, roubavam ou levavam uma vida normal, sendo que a maioria, senão todos, moravam com seus pais.  Independente disso,  levei minha vida normalmente  sem me influênciar por nada, apenas segui o meu caminho. Hoje em dia não me diferencio em nada  de qualquer outra pessoa de minha época.  Em contrapartida, conheço muitas pessoas que já passaram dos trinta anos e continuam dependentes dos pais para tudo.  O que posso dizer apenas, é que existe uma convenção do que é ser jovem demais,  e que situações adversas  podem alterar na prática o que foi teoricamente convencionado.  
Respondendo a sua segunda pergunta, esse livro, excetuando-se as mortes e a parte sobrenatural, é quase que completamente auto- biográfico. Os lugares: ruas; casas; a escola; o cemitério; a praça fizeram parte da infância que vivi naquela época. As situações apresentadas realmente aconteceram, as personagens são fictícias ( com exceção de Valquíria, que é a representação de 3 garotas que conheci) mas representam acontecimentos reais. Recebi várias críticas por colocar a primeira vez das personagens em idade pré-adolescente, de outros autores e de alguns leitores, sendo até meu livro chamado de horrível por causa disso. Mas pode atirar-me a primeira tijolada, aquele que garantir e provar que o desejo sexual só acontece na fase adulta; quando o ser humano é senhor supremo de seus sentimentos, emoções e decisões.
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6 - Ben Green Como está sendo a recepção do livro no Japão?
Evandro Raiz Ribeiro  No Japão, acredito que por estar sempre correndo atrás da divulgação do livro, tenho tido uma ótima recepção. É claro que por Japão, entenda-se comunidade brasileira no Japão. Eu ainda não traduzi o livro para o Japonês, mas tem um tradutora que o está lendo e quando ela me der alguma resposta vou analisar a possibilidade de traduzir ou não. Pois, existe a questão dos gastos e o mercado literário japonês é muito fechado. Não é interessante gastar sem ter nenhuma previsão de retorno.
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7 - Ben Green Há planos para alguma tradução?
Evandro Raiz Ribeiro Eu decidi traduzir sem falta meu livro para o inglês, e estou esperando o retorno de uma tradutora que o está lendo e fará uma possível tradução. Não sei se todos sabem, mas  “Não Deixe o Sol Brilhar em Mim”  está há muito tempo, desde que o acabei de escrever em 2010, à venda na Apple Store e na Amazon. Mas os leitores de livros em português em formato eletrônico ainda são minoria . Entretanto, quando fui à Londres, passando em algumas livrarias, fiquei muito impressionado  por em algumas prateleiras de livros  estar sendo oferecido o Kindle com um plano de livros eletrônicos.
Ainda não oficialmente falando, outra tradutora me indicou o título de “Não Deixe o Sol Brilhar em Mim” em inglês como : “Living in the Twilight Zone”.  A princípio, não gostei da alusão a “Twilight” no título,  e perguntei se não poderia ser mudado para “Shadows”. Entretanto ela me explicou que “Twilight” representa exatamente o que eu quis mostrar na história e que ficou bem claro no título da possível versão em japonês: “Hi no Ataranai Toki” (leia-se : ri no ataranai toqui) que siginifica o momento em que a luz do sol está ausente,  ou mesmo que presente, as sombras predominam  como a  alguns minutos antes do anoitecer ou amanhecer. Outro pronto, é que precisaria de um título impactante em inglês, que chamasse a atenção, da mesma forma que o título em português, mas  que não poderia ser uma simples tradução .
 

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