Biografia do autor: Nasceu em Recife, passou sua infância entre Pernambuco, Paraiba e Alagoas. A adolescência passou em Santo André, cidade que considera como sua segunda terra natal, onde tem uma segunda família e muitos amigos. As pessoas que lá encontrou, trataram um garoto nordestino e desconhecido com o devido respeito que o ser humano merece, dando-lhe a confiança necessária para desbravar o futuro e o mundo. Hoje em dia é web designer e mora no Japão desde 1992. Não deixe o sol brilhar em mim é a sua primeira aventura literária.
E para conhecer um pouquinho mais do autor e sua obra, nós, integrantes do Fantastiverso, fizemos uma entrevista com ele:
1 - Lu Piras Quando
você descobriu sua vocação para a escrita?
Evandro
Raiz Ribeiro Na
verdade, eu nunca pensei que escreveria um livro, ou
ainda que viesse a publicar um. Sempre fui mesmo um leitor, não me recordo de nenhum único dia
em que não estivesse lendo, isso enquanto morei no Brasil. Aqui no Japão, onde vivo atualmente, existiu inicialmente
a dificuldade de não ter acesso a livros
em português. E foi justamente nesse momento que comecei a esboçar uma história
, que também era de vampiros. Ainda não
era a época em que todos podiam ter seu computador pessoal, e escrevia em um
word processor que gravava o texto de
forma precária em um disquete. Acabei
perdendo o texto que havia escrito, e que
na verdade não era nada importante nem tinha consistência. Mas me recordo que
havia gostado muito de uma das cenas e fiquei com aquilo martelando na cabeça.
Até que um dia em 2009, assistindo a um filme, decidi que tinha que contar aquela história à minha
maneira.
2 - Elaine Velasco Sei que você se inspirou no filme "Deixe-me entrar" pra escrever
seu livro. Fale-nos um pouco sobre isso.?
Evandro
Raiz Ribeiro Essa é uma pergunta providencial e quero responder
detalhadamente. O filme que me inspirou a escrever meu livro foi “Let the Right
One In “ do diretor suéco Thomas Alfredson baseado na obra homônima do escritor
também suéco John Ajvide Lindqvist chamado no Brasil “Deixa ela entrar”, que
para mim é uma obra prima do terror.
Esse filme inspirou também o diretor americano Matt Reeves a fazer, desnecessáriamente em
minha opinião, o filme “Let me In” traduzido no Brasil como “Deixe-me entrar”. Digo
isso, porque foi muito cedo para se fazer o “remake” de um excelente filme que
acabara de ser lançado. Isso tirou a atenção do filme original, e o filme de
Reeves não acrescentou nada de importante a história. O filme “Let me in” não é ruim de forma
alguma, mas “ Let the Right One In” apesar de ser um produção de baixo recursos,
com algumas falhas ridículas e algumas tropeçadas dos atores execelentes, mas
inexperientes, é uma obra prima do terror, como citei anteriormente. Todos os
dois filmes contam com o roteiro do próprio autor John Ajvide Lindqvist. Entretanto, Thomas Alfredson, foi de uma
sensibilidade sem tamanho, tirando o máximo da excelente e inovadora história
de vampiros de John Ajvide
Lindqvist. Procurei tudo que existisse
sobre a obra, comprei o filme, a versão
em inglês do livro, e recentemente adquiri uma versão em português que comprei
em portugal. Lembrando que quando
escrevi meu livro, eu só havia assistido ao filme e não havia lido o
livro. Não quero fazer spoilers, apesar
de adorar um, não me importo de forma alguma de saber partes importantes de uma
história antes de a ler. Mas o livro contém informações adicionais que Thomas
Alfredson usou apenas de forma sútil, passando despercebidas a quem assiste ao
filme. Quem quiser saber detalhes, poderá ler a resenha que fiz dos filmes e do
livro no meu blog : http://evaneoslivros.blogspot.jp/2011/04/resenha-do-filme-e-do-livro-let-right.html , mas já deixo avisado: contém spoilers
terríveis.
Essa pergunta dá uma
deixa para uma questão importante, que apenas existe na mente de algumas
pessoas medíocres que acusam minha obra de plágio do filme apenas por ler a
sinopse. Não, meu livro não é uma cópia
descarada de “Deixa ela Entrar”. Cada letra, cada vírgula (algumas colacadas de
forma indevida, porque não me preparei para ser um escritor e agora corro atrás
do prejuizo. E pode, com toda razão atirar-me um tijolo, quem escreva
impecavelmente) são de minha autoria, baseados em minha história pessoal. Não Deixe o Sol Brilhar em Mim, é antes de
tudo, uma homenagem a genialidade de Thomas Alfredson, que fez despertar em mim
o desejo de passar par a o papel, o que me passava pela mente. É também uma homenagem a John Ajvide Lindqvist,
que soube inovar de maneira ímpar esse tão explorado universo das histórias de
vampiros.
3 - Edson Gomes Quais
autores você admira e por que?
Evandro
Raiz Ribeiro
Comecei a ler com 6 anos e inicialmente cai de amores pelos nossos autores
nacionais. Li Monteiro Lobato, José Lins do Rego, Machado de Assis, Fernando Sabino, etc. Aos poucos, fui tomando conhecimento também dos autores
internacionais: Júlio Verne, Alexandre
Dumas, Agatha Christie e outros. Hoje em dia, como um autor, me vejo
engajado na campanha de fazer com que se dê o devido valor ao autor nacional. O Mercado da literatura é em primeiro lugar um
mercado, e o retorno financeiro ocupa lugar de destaque nas prioridades de quem
o movimenta. E o que vem de fora nos acena com a ideia de vai nos tirar da
mesmice da monotonia cotidiana, passear por mares nunca dantes navegados, um
oasis no desertoda nossa rotina. Mas,
isso não passa de pura ilusão, o escritor esteja ele onde estiver , possui o
dom de teletransporte ao desconhecido,
usando apenas a ferramenta do imaginário
contida em sua mente conectada ao blutooth de sua pena, que hoje em dia tem o
formato de teclado. Os autores que
admiro são: Machado de Assís, por sua genialidade. Dom Casmurro, consegue
extrair do leitor desde o mais puro e sublime êxtase encerrado na descoberta do
primeiro amor, até o mais vil sentimento de vingança contido na vontade de
destruir quem amamos. Tudo isso separado apenas
pela tênue linha entre a dúvida e
a certeza, a razão e o imaginário; Stephen King, pela arte de tirar o sobrenatural do
campo do inatingível, que acontece em algum lugar distante e
trazê-lo para o nosso dia à dia corriqueiro; Edgar Alan Poe e H.P. Lovecraft, por extrair de suas vidas atormentadas,
matéria-prima farta que povoa o universo imensuravel de suas histórias
fantásticas; José Lins do Rego, pela melancolia constante e finais trágicos que
são a marca de sua obra. Não sou
apaixonado por finais felizes nem pelos bons mocinhos.
4 - Rafael de Souza Qual foi a coisa mais maluca que lhe aconteceu após a publicação de "Não
deixe o sol brilhar em mim"?
Evandro
Raiz Ribeiro
Olha, por enquanto as coisas malucas ainda não aconteceram, ainda estou no
campo das coisas interessantes e das surpresas.
Foi muito gratificante quando descobri que o autor, mesmo em meio a
ainda pouca quantidade de leitores assíduos no meio de nossa sociedade, é visto
com outros olhos, como se estivesse em um patamar diferenciado. Tive essa certeza, na primeria vez em que fui
divulgar meu trabalho, e isso aconteceu no Brazilian day Tokyo em 2011. A
Princípio, as pessoas me tratavam como um vendedor de livros, mas quando tomavam conhecimento que eu era o
escritor do livro e que estava divulgando meu trabalho, a coisa mudava de
figura. Isso foi uma experiência incrível e aconselho a todos autores a
divulgar seu trabalho pessoalmente, cara a cara com o possível público leitor,
é uma experiência ímpar. Claro que descobrir
o universo literário, conhecer outros autores, blogs e pessoas , é um universo
novo e instigante.
5 - Livia Lorena Como
trabalhar um tema tão sombrio, com personagens tão jovens?
Dennis, a personagem principal, tem algo seu? Quanto de você?
Dennis, a personagem principal, tem algo seu? Quanto de você?
Evandro
Raiz Ribeiro Na
minha opinião, a idade cronológica não
representa necessariamente maturidade psicológica. Eu com catorze anos era independente,
técnicamente falando. Pois, morava sozinho, trabalhava, estudava e cuidava dos
meus afazeres domésticos. Muitos garotos do meu convívio, se drogavam, roubavam
ou levavam uma vida normal, sendo que a maioria, senão todos, moravam com seus
pais. Independente disso, levei minha vida normalmente sem me influênciar por nada, apenas segui o
meu caminho. Hoje em dia não me diferencio em nada de qualquer outra pessoa de minha época. Em contrapartida, conheço muitas pessoas que
já passaram dos trinta anos e continuam dependentes dos pais para tudo. O que posso dizer apenas, é que existe uma
convenção do que é ser jovem demais, e
que situações adversas podem alterar na
prática o que foi teoricamente convencionado.
Respondendo a sua segunda pergunta,
esse livro, excetuando-se as mortes e a parte sobrenatural, é quase que
completamente auto- biográfico. Os lugares: ruas; casas; a escola; o cemitério;
a praça fizeram parte da infância que vivi naquela época. As situações apresentadas
realmente aconteceram, as personagens são fictícias ( com exceção de Valquíria,
que é a representação de 3 garotas que conheci) mas representam acontecimentos
reais. Recebi várias críticas por colocar a primeira vez das personagens em
idade pré-adolescente, de outros autores e de alguns leitores, sendo até meu
livro chamado de horrível por causa disso. Mas pode atirar-me a primeira
tijolada, aquele que garantir e provar que o desejo sexual só acontece na fase
adulta; quando o ser humano é senhor supremo de seus sentimentos, emoções e
decisões.
6 - Ben Green Como está
sendo a recepção do livro no Japão?
Evandro
Raiz Ribeiro
No Japão, acredito que por estar sempre correndo atrás da divulgação do livro,
tenho tido uma ótima recepção. É claro que por Japão, entenda-se comunidade
brasileira no Japão. Eu ainda não traduzi o livro para o Japonês, mas tem um tradutora
que o está lendo e quando ela me der alguma resposta vou analisar a
possibilidade de traduzir ou não. Pois, existe a questão dos gastos e o mercado
literário japonês é muito fechado. Não é interessante gastar sem ter nenhuma
previsão de retorno.
7 - Ben Green Há planos
para alguma tradução?
Evandro
Raiz Ribeiro Eu
decidi traduzir sem falta meu livro para o inglês, e estou esperando o retorno
de uma tradutora que o está lendo e fará uma possível tradução. Não sei se
todos sabem, mas “Não Deixe o Sol
Brilhar em Mim” está há muito tempo,
desde que o acabei de escrever em 2010, à venda na Apple Store e na Amazon. Mas
os leitores de livros em português em formato eletrônico ainda são minoria .
Entretanto, quando fui à Londres, passando em algumas livrarias, fiquei muito
impressionado por em algumas prateleiras
de livros estar sendo oferecido o Kindle
com um plano de livros eletrônicos.
Ainda não
oficialmente falando, outra tradutora me indicou o título de “Não Deixe o Sol
Brilhar em Mim” em inglês como : “Living in the Twilight Zone”. A princípio, não gostei da alusão a
“Twilight” no título, e perguntei se não
poderia ser mudado para “Shadows”. Entretanto ela me explicou que “Twilight”
representa exatamente o que eu quis mostrar na história e que ficou bem claro
no título da possível versão em japonês: “Hi no Ataranai Toki” (leia-se : ri no
ataranai toqui) que siginifica o momento em que a luz do sol está ausente, ou mesmo que presente, as sombras
predominam como a alguns minutos antes do anoitecer ou
amanhecer. Outro pronto, é que precisaria de um título impactante em inglês,
que chamasse a atenção, da mesma forma que o título em português, mas que não poderia ser uma simples tradução .
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